17.7.10

JANELA

A manhã
'Ensolarava'
A pulsação pusilânime
Vertia tambores
Enquanto a quietude
Estatelava
O azul
Que influenciava outras cores:
Ciranda poética

A tarde
Sobreviria
Sestrosa
Para que a noite
Flutuasse
No limite
Inexaurível da lua

CALMARIA


Desdobro-me em paz
Para que recoste
O corpo esguio
E sonhe
O sonho que nunca entenderei

Por ser mistério
Entre bichos
E homens

Mas o olhar amendoado
Me diz
Tudo
Que preciso
Saber

É quando meu coração
Bate alvoroço
Puro

DATILOGRAFIA

Escreve sobre minha pele
Preenche meus poros com pontos
Desliza com vírgulas, minhas curvas
Salpica reticências nos meus cílios
Me deixa totalmente entre aspas

ESCULACHO

Ora bolas!
Quedou-se
As carambolas

Meus dedos
Perderam
O tato
Que esculacho!
Perdi o rebolado
Ao sair
Ao encalço

Poxa vida!
(Des)fiz-me
Em rimas
Dei vexame
Entornei o vasilhame
Escalei qualquer andaime

Meu Deus!
Não sei o que me deu

Convidei prosa
Aceitou poesia

(Versou meus dias)

15.7.10

PERDIGOTO

A chuva
Estava torrencial


Brigava com lixos
Telhados
Pessoas,
Carros
Móveis
Cachorros


Brigava
Com aquilo
Que tentasse lhe impedir


A chuva
Estava fenomenal


E no meio
De tanto
Sangue
E grito

Uma voz
Me acalmou:


_ Venha! Nasceu uma flor em nossa janela!

33 ANOS


Inevitável
Percorrer
O caminho
Percorrido

Tantos passos
Seguros
Na contradição
Bambos
No fixo

Inevitável
Saber
O que nunca
Foi dito

Tanta boca
Escancarada
No silêncio
Calada
No grito

Inevitável
Sorrir
O lamento
Perdido

Tanto choro
Seco
Na garganta
Molhado
No piso

Inevitável
Querer
A flor
Do pico

Tão dura
Na mão
Suave
No istmo

Inevitável
Viver
Não sendo
O que sou:

Isso





14.7.10

INSOLÚVEL



E o amor se enrosca na memória
Saudade é um passarim que me bica para cantar seu nome
Coisa de amigo, é o que sempre digo
Não tem ano que separa
Nem distância que aparta
Porque o que mora nos olhos
Pula dentro do coração

13.7.10

TRANSLAÇÃO

As pálpebras
Acomodam
O sono
Do sol

As unhas
Sustentam
A fragilidade
Da chuva

Os lábios
Ciceronam
O voo
Do vento

As mãos
Moldam
A textura
Da terra

Ah!

Para que meu sexo
Pulse
O teor
Do seu fogo

PAUSA


Descerro a cortina
E cerro os olhos
Ao pé da serra
Que encerra
A caminhada
Quando é chegada
A cama

As folhas
Sacodem
Sem vento,
Acodem
Sem tempo
As rolhas

É cara
A partida,
Mostra-se a cara
Na ida

E o corpo
Frio
É uma carpa
Sem brio

No sombrio
Vale
Que vela
A vala

12.7.10

SOLTA


entra
diariamente
naquilo que sou
faz bagunça
das boas
e nem desconfia

me arrepia

sai
sorrateiramente
daquilo que voo
organiza
na boa
e acredita

me ensina

11.7.10

TRANSPARENTE


Conheço-te sem conhecer

Absorvo o que maximiza
Dessa alegria desgarrada
Que esvai de seus dedos

Sorri como quem pisa na lua
Monta dragões
E cospe fogo em fogueiras

Retém todo o tempo

Conheço-te sem conhecer
Mais quando chega
Do que vai embora

Mais quando deposita poros
Em minhas mãos
Que quando recolhe roupas íntimas

Reconheço-me em você
Nos potes lacrados de felicidade
Só abertos a quem tem saliva
Nessa época de secura

Reconheço-te em mim
Quando faz viagem espacial
No oceano
Multicor
E chora
Sem pudor