29.3.08

?


Seria eu
Cárcere
De minhas palavras
Se nelas
Me faço
Verdade
Até nas mentiras
Que invento?

Seria eu
Cárcere
Dessas sílabas
Que meu corpo
Exala
Até quando durmo?

Seria eu
Cárcere
Perigosa
Se eu mesma
Construo
Meus labirintos
Poéticos
E faço questão
De me perder
Nas surpresas
Diárias
Do espelho?


Eu
Que até amanhã
Sou Anna do Chico
(do Vinícius, da Marina, dos amigos...)
E cultivarei
No sensível
O farfallar
Da valsa
Da borboleta
Que um dia
Vi nos cílios
De um menino
Que descobria
O mundo

Eu
Que carrego
Os mundos
Dos mundos
Dos mundos
Dos mundos
Que me carregam

Eu
Que não suporto
As dores
Da noite
Muito menos
As do clarão
Do dia

Eu
Que me aprisiono
No silêncio
Das quatro paredes
Que meu grito
Evoca

Eu
Que faço chuva
No seu sertão
Para ser
Tão minha

ABISMO


É como

Se uma navalha

Cortasse

Lentamente

Com sua lâmina

Cega

É como

Se essa dor

Fosse inevitável

Devido aos punhos

Acorrentados

É como

Aos cataclismos

Que espalham

Sentimentos

pelos ares

ENTRA E SAI


Ela oscila:

Me veste

O corpo

Me despe

A alma

Me despe

O corpo

Me veste

A alma

Ela é precisa:

Se veste

Com meu corpo

Se despe

Para minha alma

Me veste

Com seu corpo

Me despe

Com sua alma