25.12.09

PEDRA



Há uma pedra no meio do caminho
Há um caminho no meio da pedra
Há um meio na pedra
Há um meio no caminho
...

E dois corações

ESTREIA


Antecipo
O ano novo
Num gesto
Forte
Como a um gole
Num café
Amargo
Antecipo

Renovo meu verde
Num banho
Demorado
De um chuveiro
Quente
Em dia feriado
Renovo

Transformo meu futuro
Ao assinar no contracheque
O passado
Transformo

Antecipo
Renovo
Transformo
Antecipo
Renovo
Transformo
...

E ao longe
Ouço
Borbulhas de champagne


ESTALO



De um novo começo:

Uma flor
Nasce na areia
Do deserto

PENHASCO



Do fim do amor:

Arrumou as malas
Mas não viajou
Foi embora.

INVERNO



Minha poesia
Rompe a madrugada
E ecoa no silêncio

Me leva na valsa
Sobre cama
De faquir

Devora a bruma
As estrelas
E a escuridão

Minha poesia
Quer gritar
Vermelha
Mas o dia
Está cinza

20.12.09


É TEMPO DE NATAL
E TEMPO MORTO

NÃO CREIO NUM DEUS
EM MEIO A TANTA MALDADE

SÓ CREIO NOS BICHOS
QUE GRAÇAS A DEUS
NÃO SÃO HUMANOS

18.12.09

BRILHO


As estrelas

São minhas

Namoradas


Não há distância

Que impeça

O acender


Me visto Paris

E nada mais é por um triz

28.11.09

RODRIGO




É TANTO AMOR

QUE SE MISTURA

NO AZUL

QUE O CÉU

FAZ DE CONTA

COM AS NUVENS

E NA BRINCADEIRA
ME DEIXO LEVAR
E NO ACORDAR
ME SOLTO NA BEIRA

É TANTO AMOR
E TANTO AZUL
QUE TANTO FAZ
SER BLEU OU BLUE
* 28/11 - 2 aninhos / De tia Godi para Digo

24.11.09

MEMENTO


Carrego em mim
A poesia
Dos Secos e Molhados

À parte disso
Os supermercados
Gritam a madrugada

Som sem acordes
Dissonantes

Sigo viagem!
Sou carona
Da minha própria condução

6.11.09

RITUAL


Um passeio
Matinal
Com minha cadela
Pelas ruas
E praças
E avenidas

Após chuva fina

Revela uma grama mais verde

Quase fim da primavera

Me traz o vento
No nariz
E o calor
Nos passos

Só não traz
Você
Que dobrou a esquina
E meu coração

31.10.09

NASCIMENTO



Ah, se o oposto da morte
É o amor
Abro meu túmulo
Nesse dia
De finados

Que meus corpos
Sejam todos
Remexidos
E reativados
E recuperem o sabor
Das gotas
Derradeiras

Das noites
Mal dormidas
Dos suspiros
Afoitos
De pernas
Insustentáveis

Nos calores
Nos suores
Nas cores

Que tingem de amora
As avenidas
Por onde trafegamos
De mãos dadas
E acontecemos
De outono a outonos
Primavera

23.10.09

ESCALA


Os dedos
Deslizavam

Pelas teclas

Do computador

Como em um piano que ressoa
Pela sala
Pela casa
Pela rua
Pelo bairro

Os dedos escreviam
Palavras
Como notas
Musicais
E a canção era o silêncio
Pela cidade
Pelo país
Pelo universo

Pelo corpo

Habitado por letras
E palavras
E orações

E nenhuma reza era capaz de salvá-la
Desse mundo
Ela queria se perder no quente
Do pulso

19.8.09

ESCRITA



ESCREVO POESIA
COMO QUEM SE DESPE
NÃO É FÁCIL
NÃO É DIFÍCIL
É EXATO

NÃO É EXATO
PODE SER FÁCIL
PODE SER DIFÍCIL

TUDO DEPENDE DO POETA
E DA POESIA

DO INSTANTE
DO IMPULSO
DO EXERCÍCIO
DA LAPIDAÇÃO

DA TREPIDAÇÃO
DO PÊNDULO
EM QUE ELE
SE EQUILIBRA

ENQUANTO NÃO HÁ RESPOSTA
DO MISTÉRIO
EU ESCREVO
QUE ESCREVO
POESIA

(I)MUNDO



AS PERNAS
ESTAVAM
CINZAS
DE TÃO ENCARDIDA
A PELE
NEGRA

FALTAVAM-LHE
UMA BOLA
A ROLAR
VELOZ
PELAS GRAMAS

AFINAL
ERA SÓ
UMA CRIANÇA

MADRUGADA



NO RESTO
DA CASA
NÃO IMAGINAM
O CLAMOR
DOS CORPOS,
A FEBRE
INTERNA
QUE PULSA
AO SOM
DA FÚRIA
DO ROCK

O SILÊNCIO
É TUDO
E NADA

O SUOR
É SAL
E ÁGUA

NÃO HÁ RECALQUE

HÁ UMA PERNA
QUE SE ENROSCA
A OUTRA
UMA BOCA
QUE SE COLA
A OUTRA
UM ESPASMO
QUE SE ESPARRAMA
NA CAMA

É...
NO RESTO
DA CASA
LÂMPADAS
SE APAGAM

18.8.09

DAS ALTURAS



Como é lindo
Meu planeta
Visto aqui de cima

Horizonte
De tanto céu
E tanto verde

Qualquer lugar
Está imune
Da maldade
Aqui de cima

14.6.09

BRILHO



A moeda
Da sorte
Dá sorte
Se há fé
Na fé


Quando é assim
Ela brilha
O brilho dela
Nos olhos
De quem brilha

28.5.09

TRILHOS



Entrará num expresso
De velocidade
Oscilante

Percorrerá outros
Olhares
Sinais
Céus
Que se espalham
Acolá

Sentarei à espera
Esperarei
Esperarei
Esperarei
...

Retornará
No vapor
Azul
De tanto mar
Grego
Retornará

Abrirei os braços
Sorrisos
Portas
Do verbo escancarar

Ah!
Esse inverno fechará cicatriz

CORTE




A morte
Visitou-me
Num sonho

Nele,
Ela era esperada
(Apesar de inusitada)

Uma faca
Cortou
A carne
(A minha)
Pelas costas

Tornou-me
Estática
Numa dor
Antes
Não imaginada

Com a cara
No chão
Entendi
Que era o fim

Ele
Veio banal

Fui assassinada!

O motivo:
Um vestido
De malha
Que não lhe coubera bem

A autora:
Uma vizinha
Que nem sei o nome

Assim
Sem alarde
Morri
Numa segunda-feira
Num outono

9.5.09

SAMBA BOM (Para Ana Costa)




É samba do bom
Que eu canto
Em qualquer canto
Em qualquer palco
Em qualquer chão

É samba do bom
Que encanto!
Visto meu manto de bamba
Pego o cavaco
Invoco a dançaAlinhar ao centro
Está armada a batucada no meu tom

É samba do bom
Que levo e trago
Nesta vida

Sou Portela
Sou Mangueira
Na avenida

E o bom do samba
É sambar até raiar o dia

7.5.09

AVE MARIA

Maria não sabia da vida
Da vida pra levar
Pra onde ia?

Da vida que se foi Se fez neblina
E a fumaça
Do esquecimento
Era sua guia

Maria
só sabia

Da sina das pedras
Das rezas esquecidas
Das cantigas
E das crianças

Da dor colorida
Da televisão sem cor
Da fome e do cão

Maria
não sabia

O caminho da estrada
Chutava lata
Soltava pipa
Entrava n'água
Fazia fita
Contava estrela
Na feira

Maria
só sabia

Da vida que a levava
Sem casa
Sem sorte
Mas bordava
Sua estória
Com braço forte

2.5.09

SALGADO


E se ela partisse
De repente
Como uma estrela
Que parece cair?

E se ela partisse
Como se entrasse
No trem
Que não regressa?

E se ela partisse
Como o sonho
Que não há lembrança?

E se ela partisse?

Meu coração
Partido
Em pedaços
Pontiagudos

Rasgaria
Minh'alma
Em tortura
Dilacerante

Meu cambalear
Sôfrego
Desmoronaria
Sarjetas

Adeus alicerces do mundo!

Mundo imundo
Que desplanta
Flores de alegria
Desmundo de prazer

Só a paisagem
Quadrada
De uma cela
Sem sol

Só o peito
Trajado
De hospício

Nada mais
Que um corpo
Oco
Vazio
Sozinho

Nada mais que o nada

Nada restaria
De pavio
Ao brilho
Que um dia
Tive no olhar

Sem sorrisos
Sem presente
Sem futuro

Uma capa
Mofada
De super herói

Um palhaço
Sem criança

Um céu
Sem lua

E eu
Sem mar

25.4.09

PÁSSARO



1, 2, 3, 4...
Muitos
Bater de asas
A perder de vista
Num voo
Rente
Ao carro
Nesse tráfego

Para onde vai o pássaro?

Veloz
No silêncio eco
Dos ventos
Ele passa
Pássaro
E eu no meu canto,
Canto

9.4.09

BRINCADEIRA



Que colorida é a vida
Em suas descobertas
Crianças



Que sorriso é a vida
Em suas aquarelas


A brincadeira
Sobe e desce
Na face
Do coração


*desenho encantado do meu príncipe sobrinho Vinícius

METADE

... E a outra
Da mesma moeda
Paga para ver o inacabado

E a outra
É a mesma
Lapidada em si
Em estado primitivo
De parto

WEBCAM



Está aberta
A cortina
Desse palco

Quem se apresenta
Está fechado

NO CHÃO



Coração frágil
Descartável
Como objetos
De calçada
Soltos

Acima
O céu
Calado
Espreita
O incompreensível

O arranhão
Já não sangra
A dor
É opaca

Mais um passo
Ou o vento
E será desfeita
A cena
Desse amor
Reciclado

22.3.09

O COMEÇO DO FIM


A escolha é sua, o caminho é nosso, a porta deverá ser aberta
O coração deverá ser aberto, a escolha é nossa, o caminho é seu
A escolha deverá ser aberta, o caminho deverá ser aberto, a porta é sua
O coração é nosso, a porta é nossa, o coração é nosso

* homenagem ao gênio criativo do artista Fábio Costaprado