8.7.10

CAMINHADA

Quando passeio com Frida
Minha cadela
Respiro o agora

Não procuro rostos
Em nuvens
Nem formas
Em rostos

Permito que ela me leve
Leve
Mesmo se apressa
Os passos

Permito
Entender
A força do acaso

E foi assim
Que essa manhã
Estendi a mão a Carlos Alberto
Nem Drummond
Nem Fernando
Mas um senhor esperto

Que me contou confidências
Eu lhe contei estrelas

Tudo no meio da rua
No meio da gente
E da gente que passava
Sem espiar
Que a vida não para
Quando para


7.7.10

FÉRTIL

Meta-me
Os dedos
Meta-me
A língua

Tenha-me
Por meta

E tenha pressa

Pois escorro
As pernas

BIRRA


não gosto
quando você
desaparece
dos meus dias
e não aparece
nas minhas noites

GALHOS



Minha árvore
Genealógica
É analógica

Estico e podo
Meus galhos
Que se eriçam
Ao vento
E crepitam
Ao sol

Na ponta
De cada um
Deles
Um causo
Estelar
A alumiar
O breu
Que acolhe
As dúvidas
Em caixas
De madeira

Vejo meu pai
Minha mãe
Meus irmãos

Cada qual
A semear
A fertilidade
Que carrego
No ventre
Por onde
Passo
Por onde
Paro
Por onde
Pouso

Aprendi a pedir
Licença
E arrombar
Corações

Desaprendi
A tocar campainhas
E trancar cofres

Minha árvore
Genealógica
É minha
Lógica

6.7.10

ESTIMA

Quero beijo
Que salive
Gozo
Que escorra
Água
Que transborde

Quero o tilintar
Dos cristais
Dentro das cavernas
Pontiagudas

Quero mãos
Ásperas
De poesia
Para me esquentar
O fogo
Que voa
E o bafo
Morno
Me assoprando
A nuca
Branca

Quero o silêncio
Dos monges
Dentro
Dos orgasmos
Escandalosos

Quero pés
Colados
Aos meus
Por baixo
De cobertas
Em cima
De gramas

Quero chuva
Fina
A acariciar
O rosto
Forte
A movimentar
O corpo

Quero o sol

Por fora
Por dentro
Por fora
Por dentro

Por dentro

4.7.10

CIGANA (para Nanda Barreto: http://transitivaedireta.blogspot.com/)


a porta estará aberta
ao que torna verde
os dias
ao que tem cheiro de mato
molhado

seguirei descalça
nua
descabelada
de mãos dadas
com as sementes e os baús

conte-me tudo
ao pé do ouvido
sem titubear

quero saracotear a vida
como a um mergulhador
que descobre os segredos
da escuridão

e nela acender uma vela

quero suas mãos que me são claras
e nelas percorrer as linhas

em troca ofereço meus dedos
longos e cravados

tudo agora
tudo instante
na multiplicação dos segundos

um riso nunca é a toa
assim como um balão
nunca voa em vão