24.6.10

CAOS


Penso nos germes
E nos vermes
Inquilinos
Dessas crateras
Que absorvem a poeira

O mundo anda imundo
E a água não mais desagua

Eu no centro
Sem saber se observo
Ou sou observada

Eu calada
Pela língua
Minha melhor arma
Eu inerte
Pelo sonho
Meu melhor teste

Eu desarmada e inconteste

Penso nos germes
E vermes

TRAJETO


Inauguro o pardo papel
Com minha poesia
De sangue
Que me aquece e esfria
As vontades

Já é tarde
No céu
E um sol prepara a despedida
Nem louca
Nem tímida
Enquanto aguardo a partida

A minha

Cabelo ao vento
Mochila nas costas
Mundos na cabeça

É São João
Não acendi fogueira
Mas meu coração
Em brasa
Iluminará a estrada
Que se agiganta
Sob meus pés

Que hoje fogem
Do amanhã
Para que o ontem
Nunca termine

23.6.10

IMENSIDÃO


O vale está deserto
E um lobo
Espreita
A solidão
Que ecoa azul

Não há silêncio
Quando é só silêncio
E nem há barulho
Quando tudo rui

O vale está deserto
E meu lobo
Atinge
O cume

AU REVOIIR


Despeço-me como cheguei
Num rompante florido
Em busca de mar
No deserto

Sigo em frente
A sorrir
Pelo passado

Passo a passo

Sigo seus olhos
Que insistem
Em não me ver

ECO


Na solidão da máquina de escrever a vida não é nada diminuta
O céu é maior que o céu
O sol é maior que o sol
E todas as canções são mais que canções

22.6.10

POETAR

A poesia grita em voz alta
A poesia fala em voz alta
A poesia sussurra em voz alta
A poesia se cala em voz alta
E o mundo tapa os ouvidos
Em vão
Pois a poesia acontece aos olhos
Do coração

TPM



Três mulheres
Num diz que me disse
Quem disse?
Quem disse dissimulou
Quem ouviu acreditou
E estava instaurada
A desordem
Das casas
À beira mar

E a água passava
Passava
Passava

21.6.10

CÉU


Queria uma poesia
Que falasse do sol
Mas a lua
Insiste
Em rodar
Na minha cabeça