22.11.07

UMA PRISÃO


Hoje rezei
Aprisionei os pássaros de origami, depois
Lembrei:
- Lembramos?
Tranquei os cofres
Das lembranças como se fossem perigosas,
Engoli a chave:


- Tive coragem.

E a ternura será ternura sempre

UM BRANCO



Por aqui não há neve
Os flocos voam longe
O branco me cega
Entre os pedaços inteiros
Mais verdes das mulheres

_ As palavras num parto mortal
Abrem os olhos

Cicatrizes desaparecem
Das nascentes dos poros
E vão, uma a uma
Rodar no liquidificador
Numa saudação tardia
De quem permanece
Assada


A espera da neve
Dos flocos
Do branco
Do algodão
Que acolhe a semente
Antes da vida

20.11.07

UMA FOGUEIRA


O amor dobrou a esquina
Num dia cinza


Não me preocupei
Por estar entretida
Com o mecanismo do guarda-chuva

(que não me guardou das dores
por ser turvo)


Se abriu com a chuva
Me inundei em água salgada
Secou ao sol

Tive a rosa despetalada


Ele elegante
Eu elétrica


O amor não deixou pegadas
Os dias seguiram nublados
o me preocupei
Porque estava de óculos escuro
Fechando os olhos
Para ver a lua
Ela não percebeu minha anti-presença
(por brigar com o dragão)


Ela redonda
Eu quadrada


O amor, a chuva, eu
Fomos cúmplices

Do namoro dos astros
No rastro que se fez reto


Só uma gota de perfume


Ele diluido em água
Eu crepitando em fogo