2.9.10

ATEMPORAL

Num dia
De clarão
A lembrança
Causará
Cegueira

E abrirá cicatriz

Do sangue:
Jorros
De açúcar
A tornar o instante
Encorpado

Coágulos
De vontades
Interrompidas

Que plantaram
No solo
Da pele
Uma esperança
Em coma

A sanguessuga
Aventura
Da vida
Prossegue
Post Mortem

Em escalas
De cinza

É quando os olhos
Ardem
O esforço
De ver

E a lágrima
Derradeira
Cairá
Num dia
De clarão

Enquanto da lembrança
O coração
Será cego

1.9.10

ENTÃO

E agora Anna?


O encanto acabou

Como surgiu:

Avassalador


O livrei

Do meu corpo

Como amarras

Fortes


As mesmas

Que quis

Em nossas peles

Quando havia lua

No baixo do céu


Anna mudou


Para longe


Para perto

Dentro

De si

PASSAGEM

O barulho
Do trem

Sobressai
O silêncio
E os pedaços
Dos diálogos

Ao telefone

O sol
Entra,
Desimpedido
O calor

A imagem
Me entontece

Estou prenha
Das gentes

31.8.10

BREU

A contemplação
Silenciosa
Grita
Nas frestas
Nos cantos
Nos vãos

Em vão
A impotência
Perante
O notívago

Apago a luz
Para ver melhor
E a casa
Finge
Que dorme

* em diálogo com 'Sobre a Casa' de Fabiana Motta
http://nexogrupal.blogspot.com/2010/08/sobre-casa.html