8.2.08

2 TEMPOS



Passados 30 anos uma coisa não mudou: as luzes festivas que indicam ser época natalina. O asfalto molhado que duplica imagens urbanas traz no olhar a melancolia do encontro que não tive, o nosso. Eu aos quatro meses de vida a descobrir vultos e sensações que nem sei se existem na memória. Você aos 57 transbordando metáforas pelos poros. Uma história que começava e outra que ainda seria contada.

O nome soa como a um doce exótico, a boca fica mais vermelha, os olhos brilham e o coração palpita selvagem, eis os sintomas ao ter nos braços seu abraço em forma de palavras. Descobertas, redescobertas, cobertas para um corpo inquieto a se equilibrar numa corda bamba cujas extremidades são "arte" e "arte", duas partes traduzidas por Ferreira Gullar, hoje mais senhor, mas o mesmo que entrou num táxi em dezembro e desviou do caminho sua face pálida. Era quase um pecado perder de vista a soberania que sua presença evocava. Hoje sou eu quem, de dentro do carro, observo a noite oculta que adormece em minha sensibilidade. Desconfio que você tenha explodido nos céus e mesmo a quilômetros de seus diâmetros, um pedacinho atingiu minha cabeça e ficou preso nos cachos, se há dor é uma alegria, quase uma obscenidade, como a um parto que sangra de amor.

Em sua companhia percorro lugares, pessoas, animais... Espelhos: me percorro. E o percurso é sempre a beira do abismo.

5.2.08

UMA CICATRIZ


Estou sob camadas de proteção
Estou presa
dentro do mundo
Não consigo escapar


Pra onde correr se não posso voar?

A vida, muitas vezes, tem
Por trilha
Sonora
Uma canção triste em inglês

E o choro compulsivo em gotas
De cristal

Só o sal me alimenta
Nessa ausência astigmática de sol

Só o silêncio é um clube de carnaval

Só não posso com as frestas do vento


* Arte-ilustração da vida do artista Mário Jr.
http://www.fotolog.com/mario_quemario