2.7.10

FREVO


Me escondi
Sob a sombrinha
Da menina bamba
(Me encontrei)

Ela rodopiava leve
Eu bebia a ressaca
Das estrelas

Ela foi dormir
Eu acordei
E a sombrinha
Vestida de joaninha
Ensolarava o carnaval
Fora de época

OUTRA ESTAÇÃO


A primavera acabou
Restaram as folhas secas
E caídas sob meus pés
Molhados

O vivo do vermelho
Ficou para trás
Com o brilho daquele sol
Que a chuva apagou

O coração secou
Como a uma amora
Que se perde na grama

E assim
Distraida
A criança pisa
E o colorido ressurge
Forte
Como aquarela
Na infância

Já é verão!
O calor virá
Os amores virão

29.6.10

PULULA


Os pensamentos estavam vivos
Como pipoca em panela
Saltitavam
Entre passado e futuro

E o presente
Pegava fogo por descuido

28.6.10

CASA DOS SONHOS

A casa
Dos sonhos
Tinha as paredes
Da cor do sol
E muita confusão
Sentimental

Até o impossível
Era possível
Até o abstrato
Era real

E os sonhos iam e vinham
Cresciam e diminuiam
Voavam e aterrisavam

A casa
Dos sonhos
Não tinha portas
Mas tinha chaves
Não tinha chaves
Mas tinha portas

A casa
Dos sonhos
Era sonhada
E por isso
Não existia

Por ser sonhada
Existia mais que o imaginado
E esse sonho
Nunca mais seria acordado

POETINHA


'Seu' Vinícius
Foi meu professor
De amares
Meu padrinho
De quereres

Aprendi e sofri
A lição

Vivi
Vini

Moraelizei
À décima potência
O que não se explica
Com razão

DO CONTRA


Escrevo torto
De propósito
Sou inversa
Sou do avesso
Fico à vontade
Na contramão

Deixo pistas
Planto provas
Qualquer sinal
Que me contradiga
Que delate
Meu desajeitado coração

Faço essa rima
Boba
E babo
Na palma da sua mão

PRECISÃO


Traço uma linha
Imaginária
Entre nós
E cubro
De poesia
Todas as retas
Todas as curvas
(As suas)
Que me escapam
Das mãos

Escrevo entrelinhas
Fora do alcance
E cavo verbos
Indiretos
Diretos
Que magnetizam
Os pés

Sou um poço
Cartesiano
De escolhas
Das palavras
Que invento

NASCIMENTOS

1.
Se as lágrimas
Saltam
É sinal que o corpo
Está pequeno
Para tanta vontade
É o instante
Em que não cabemos em nós
Por querermos voar
-----------------------------------------------
2.
Se a lágrima
Salta
O corpo
Está contraído
De vontades
Nesse instante
Não caibo em mim
Por querer voar
...
Só não sei
Onde estão minhas asas

27.6.10

SOPRO

A cortina
Balançava suave
E azul
Num balé descompromissado

Manhã amena
De sol
A desenhar no teto
Abstrações cotidianas

Um livro era lido
Um chá fervido
Um dia engolido

E nas pálpebras
O calor

PERIÓDICO

Fez a assinatura
De um jornal
E ele vinha
Em branco
Sem notícias
Claro
Como deviam ser os fatos

Dia após dia
seus leitores
Escreviam uma nova história

E o mundo
Tingido de cor
Anunciava
O cinza
Que não mais havia