24.7.10

BOM

Só é bom
O que fica
Na vontade

Aquilo que se estica
Em braços
No futuro
E é anunciado
No pôr do sol

O sorriso riso
Que paira
No ar,
A contradança
Não dançada
A mala por fazer
O penteado por desarrumar

O bolo
A ser cortado
De chocolate,
A música
A ser ouvida
De verdade

O filme marcado
O telefonema esperado
O orgasmo desejado

O chinelo em casamento
A paz em tormento
O zero em investimento

Só é bom
O que vai
Na saudade

FAÍSCA

Pegou fogo
No meu corpo
Mandou ver

Tombei
Simplesmente
Tombei

Dancei
A noite toda
Com você
Refletida
Em meus olhos

23.7.10

NHAC


Sobe-me
Um arrepio
Pela nuca

Desce-me
Uma quentura
Pelo umbigo

Mexcita
De dentro para fora
De fora para dentro
Sou toda Tzão
Nesse domingo meio azul meio amarelo

DESALINHO

Cabia
Confortavelmente
Dentro
De um pensamento
Que surgia
Em horas impróprias
Cabia
Dentro
De mim

Tal motivo
Por não
Acontecer
Fora

Fora isso
Tava tudo bem
Em desordem

22.7.10

ESBOÇO

Vivo
A rabiscar
A vida
A morte
E os avessos
Todos
Que coçam
Meus pensamentos

Num corpo
Que pula
Expurga
Vibra
Acomete
Fluidez

Às vezes
Não dou conta
De mim

Escapulo
De minhas mãos
Fujo
De meus pés
Cego
Meus olhos

(Às vezes)

Noutras
Encolho-me
Em coma
Nos meus escuros
Detalhes

Apago
Minha luz
Por vislumbrar
Na penumbra
Rastros
Dos meus anos

Que dilatam-me
Os poros
Em pêlos
Negros

Pelo sim
Pelo não
Continuo
A rabiscar
A vida
A morte
E os tropeços
Poucos
Que abstraem
Meus sentimentos

21.7.10

PONTEIROS

Sequestraram o tempo
De nossas próprias mãos
Arrancaram-nos
Sem que percebêssemos
Pois estávamos distraídos
Com o banal
Que suja as pontas
Dos dedos

O tempo passou
E passa
Quando acreditamos
Em sua inércia

Somos títeres
De deuses
Invisíveis
Que duelam
Com fantasmas,
Somos marionetes
À mercê
De uma mercedes
Conversível

Da sorte
Dos dados
Dos passos
Apressados

Estamos atrasados

Lá fora o sol
Urge
Quando engavetamos a lua

Nós engravatados
Com pés
Sobre gravetos
Frágeis:
Metáfora cotidiana

Sob as unhas
O lodo do dia
O casco do trote
Nenhuma euforia
Sob as unhas
Eu dormia

E o tempo corria
Em pesadelo
Arrastando
O fulgor
Que deveria ser natural
Dos olhos

20.7.10

NO METRÔ


A multidão
Silenciosa
Escora
O suor
De um dia

Portas
Abrem e fecham

Ouço
Celulares
Vejo
Sacolas
Leio
Livros e impressos
Alheios

Olhares
Entrecruzam,
Pensamentos
Fogem

Alguém
Sorri
Alguém
Chora

E a cidade
Se ilumina
Para dormir
Equanto o trilho
Grita que acorda

19.7.10

DE REPENTE, DANDHARA


Há 4 anos
Ela chegou
Ateando alegria

Me fez tia

Há 4 anos
Ela chegou
'Atiando'

18.7.10

LUBRIFICANTE



Como um fio
De azeite
Pousou
Sobre mim
Um suave
Líquido
Espesso

Dos pés a cabeça

Molhei os dedos
E mergulhei fundo
Fundo
Fundo

Nos seus olhos