22.5.10

EXTRATO


O tempo passa
Proporcionalmente
À movimentação bancária:

O marajá passa o cartão
E compra todas as horas
De pernas para o ar
(Compromissos até 2015)

A mulher passa uma mala de roupa
E compra mantimentos
Com as pernas gastas
(Varizes até a tampa)

O tempo passa desproporcionalmente

O TREM


Na velocidade de um trem
Um verso nasce
E ninguém repara

Ele para
Eu desço
E outro vem

'Ó, o trem já vem seu moço!'

Ele parte
E meu coração
Partido
Dispara
Noutra espera

A VACA


As tetas
Exuberantes
Amamentavam a humanidade
Vaca e humanidade gordas

A malhada
Pesada
Não tinha mais força
Nas pernas

A cambada
Cambaleava
Na dignidade

E o sino tocava

A vaca
Cavava
As patas
No matadouro,
O senhor
Sonhava
Com manjedoura

E ambos os rabos
Diziam adeus a vida
Diziam a Deus

O PORCO


O porco era de estimação
Recebia comida, água e ração
Muita ração

O porco a cada dia mais belo
Mais forte
A cada dia entregue à sorte

O porco cresceu
O porco foi solto
E o porco era só um porco

Porco sem raça
Sem cara
Corpo

Porco corpo
Corpo porco
Porco corpo
Corpo porco

Gritou e ninguém quis ouvir
Foi posto à mesa
Para quem quisesse servir

TRÁFEGO


É fácil perder-se quando não se sabe onde ir (?)
Os caminhos levam ao mesmo lugar (?)

As linhas, das mãos, cortam a velocidade

Eu paro
E os carros passam
As pessoas passam
O tempo passa

Eu passo e já é passado.