1.4.07

UM OLHAR


No que consiste o olhar?

Ao mirarmos um alvo, quantas vezes são necessárias a observação, para percebermos o que, num primeiro encontro, passa despercebido? Quando enxergamos com a sensibilidade, ela aumenta, e aumenta com ela nossa exigência crítica. Cada vez que olharmos para algo, o novo surgirá. Para isso é bom tomarmos emprestado o olhar do estrangeiro, o que nos fará sentir a expectativa da estréia e as nuances dos detalhes. O olhar do outro acrescentará sombras e luzes, e o aprendizado acontecerá com a experiência prática, com a educação do olhar, com a receita de ver o que está além do campo de visão, afinal, vemos com os olhos ou com a mente? No filme "Quem Somos Nós" constatamos que, se o objeto não faz parte do nosso imaginário, não o vimos se ele está a nossa frente. O que também causa invisibilidade são fatores como: superficialidade, preconceito, medo... O que me faz discordar da declaração de Suzanne Langer (teórica filosofa da arte e obra de arte): Ver é em si um processo de formulação; nosso entendimento do mundo visível começa no olho.

Poderia ter 5 graus de miopia e ver o que quem tem uma visão clínica perfeita não é capaz. E também dependemos dos condicionamentos culturais.

"Olho e olhar em português tem proximidade, mas em outras línguas a distinção se faz clara". Outro fator instigante: o Guernica original é o mesmo que se fixou em minhas retinas? Quando fotografamos com os olhos nos apropriamos da imagem admirada, quem é o observador? Quem é o observado?

No "Livro dos Abraços" do Eduardo Galeano, um dos relatos é sobre uma atriz que foi abordada por uma senhora com a seguinte indagação: _ Quando eu te olho você também me vê? (Ela disse que não soube o que responder)

As interpretações e conclusões são múltiplas. Fica o alerta para que mantenhamos os olhos abertos. Que a cegueira não nos aprisione!


* Para reflexão recomendo "Elogio da sombra" do amigo Jorge Luís Borges.

Um comentário:

LM disse...

"Meu olhar é nítido como um girassol" (Caeiro)