Ela foi com o rumo que só os que foram um dia ou uma noite conheciam. O peso que martelava os mirrados ombros era das mortes que mascarou nos meios e cantos dos matos. Nas ruas que corroíam seu rosto: rios ruidosos que as lágrimas fizeram ferida. O fundo do mundo morava nas margens da vista cansada que, em silêncio, fotografava o espaço do piscar do olho de quem não pode dormir. Com esse amontoado de vida, ela foi.
Não teve folga de olhar para o que caía no caminho. Engolia a seco o que sobrava da carne seca. Não dormia nem em rede de tropeiro. Tropeçava onde não havia o clarão da lua. Com as botas sete léguas dos bandeirantes, passo a passo, ela foi.
Não teve folga de olhar para o que caía no caminho. Engolia a seco o que sobrava da carne seca. Não dormia nem em rede de tropeiro. Tropeçava onde não havia o clarão da lua. Com as botas sete léguas dos bandeirantes, passo a passo, ela foi.
Cantou pro coração ninar no escuro as canções das suas bonecas de pano. Diminuindo iam seus pés e mãos a agarrar nos caules sem água. Sentia a sede a surrar sua língua. Cambaleava. Com os dias contados, ela foi. Se foi no rumo da estória que era a sua.
Desfaleceu com o grito do primeiro bicho que acorda o dia. Não se movia nem fingia que era a morte, era o fim de tudo que amarrava as vontades da sua alma. Ela até então, foi forte.
Desfaleceu com o grito do primeiro bicho que acorda o dia. Não se movia nem fingia que era a morte, era o fim de tudo que amarrava as vontades da sua alma. Ela até então, foi forte.
No quente do corpo corria sangue índio. Coragem. No quente da cama corriam as pernas bambas. Descoragem. Com a queimadura dos brios, ela foi. Uma crespa barba que, de mês em mês, por ali passava, avistou da lonjura de sua sabença, o que não era do sertão: o corpo da mulher. Sem saber, o rude, que ela era tão sertão. Sempre foi. Na morenice e suor dos braços deixou-se acalentar. Foi mar. Foi fogo. Desmanchou o ar. Foi devagar. Foi junto. Foi amar. Sentiu essas cócegas até sentir a desvontade dos carinhos.
O galo cantava todo dia. Era esse seu tempo. E o que antes era bom e feliz, transformava-se em tristeza triste, daquelas que espanta do espelho o escorrer do choro. Com a garganta trancada, trancou-se da mata. Enfiou na cabeça que ia coser o aberto do rombo. Ela foi.Já na beira do abismo examinou com os pés a textura da poeira que subia com o vento frio que anuncia uma desgraça. Transmutava-se em touro bravo de arena. Crescia. Ansiava pelo assobio secreto dos rumores (que surgem nas curvas das estradas perdidas). O duelo travava-se entre o medo e a memória do que já se esquecia. Corria no vão dos pensamentos maldosos. Atirada em vôo sem guia permitia-se ao mergulho. Foi empurrada pelo o que tem o nome vida. Foi sem cria. Ela foi para sempre foice.
Um comentário:
Boa tarde Anna !!!!!!
Desculpe invadir seu âmbar, mas não poderia deixa de contemplar o seu blog! Quanta poesia, ainda existem pessoas com sensibilidade no mundo literário. Me surpreendo ao mesmo tempo que me deleito com palavras recheadas de tanta magia e encanto, me deixei levar pelo tempo e tive a curiosidade de ler alguns dos seus escritos e me surpreendi ainda mais com as ilustrações que parecem ter sido feitas para aqueles momentos, sem contar o belissímo texto "Meu chá com Pina Bausch" algo para ler e reler ao som da suave voz da musa Bethânia.
Realmente um blog que deve ser divulgado, lido e relido. Sua sensibilidade é unica. Estou entorpecida até agora..... espero encontrar sempre novidades por aqui, pois agora, se me permite tamanha intimidade, serei visitante assidua.
Amanda Madureira
Meu e-mail:amamadureira@bol.com.br
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