desculpa por afastar o sol do seu sábado
uma peneira seria mais elegante
minha gentileza travestiu-se do indelicado
pequei sem ser santa
quando propus abrir meu coração
e despejar em suas mãos
gotas de tranquilidade
me reconheço
ao desconhecer
e o amanhecer trouxe trovoadas.
desculpa por eu ser má
malandra em corda bamba
nem sempre o circo é feliz
não sou domadora
nem trapezista
estou mais para escafandrista
Tá tudo aceso em mim! "Estamos no reino da palavra, e tudo que aqui sopra é verbo"
28.8.10
27.8.10
OUTRA ONDA
26.8.10
SUSPIRO
Gradualmente
As vistas
Ficarão mais cansadas
Que o habitual
As pernas
Dançarão
Bambas
Pelas ruas,
As mãos
Serão fracas
Perante
Os copos
Na face: rugas
Cavidades da vida
Marcas do tempo
Coração em pêndulo
Subitamente
A memória
Falhará,
Fechará
O cerco
Irão amores
Amigos
Mementos
A espinha
Ereta
Curvará
Em cumprimento
Eterno?
E a fragilidade
Será sem-vergonha
Inevitavelmente
Cairá em leito
Num sopro
Horizontal
Será fatal
Por ter sido
Humano
As vistas
Ficarão mais cansadas
Que o habitual
As pernas
Dançarão
Bambas
Pelas ruas,
As mãos
Serão fracas
Perante
Os copos
Na face: rugas
Cavidades da vida
Marcas do tempo
Coração em pêndulo
Subitamente
A memória
Falhará,
Fechará
O cerco
Irão amores
Amigos
Mementos
A espinha
Ereta
Curvará
Em cumprimento
Eterno?
E a fragilidade
Será sem-vergonha
Inevitavelmente
Cairá em leito
Num sopro
Horizontal
Será fatal
Por ter sido
Humano
INTERVALO
Está suspenso
O momento
E a demora
Arrasta
Brusca
A chuva
Desaguará
Em bifurcações
Ilusão?
No reverso
Continuarei
Meus passos,
Os melhores
E de lá
Versarei
A teus pés
O que seguro
Firme
Entre
As mãos
O momento
E a demora
Arrasta
Brusca
A chuva
Desaguará
Em bifurcações
Ilusão?
No reverso
Continuarei
Meus passos,
Os melhores
E de lá
Versarei
A teus pés
O que seguro
Firme
Entre
As mãos
EU LUA
A lua
Está cheia
Lotada
De sentimentos
Que transbordam
Aos olhos
O branco
Que contrasta
O que é (ou está)
Turvo
Instantes
Duradouros
De admiração
Que nos engole
Absorve
Permito-me
Antropofagicamente
Além
Dos ossos
Que sustentam
Meus pilotis
Frágeis
Seguimos
Imanadas
E a estrada
É traçada
Ao vivo
Está cheia
Lotada
De sentimentos
Que transbordam
Aos olhos
O branco
Que contrasta
O que é (ou está)
Turvo
Instantes
Duradouros
De admiração
Que nos engole
Absorve
Permito-me
Antropofagicamente
Além
Dos ossos
Que sustentam
Meus pilotis
Frágeis
Seguimos
Imanadas
E a estrada
É traçada
Ao vivo
24.8.10
RIMA
o viço da pele
no cio da carne
nada fere
tudo arde
a flor dos poros
no fogo da língua
abre os olhos
fecha a míngua
o susto do fôlego
na cicatriz da unha
traz o trôpego
afasta a munha
a trança das pernas
no umbigo do mundo
solta as feras
...
e as prende no fundo
no cio da carne
nada fere
tudo arde
a flor dos poros
no fogo da língua
abre os olhos
fecha a míngua
o susto do fôlego
na cicatriz da unha
traz o trôpego
afasta a munha
a trança das pernas
no umbigo do mundo
solta as feras
...
e as prende no fundo
23.8.10
TRILHAS
Colocou no ‘headphone’ uma música feliz. Ensaiou um balançar de cabeça e um sorriso tímido. Fechou os olhos. Era assim que as pessoas pensavam melhor. Era quase ano novo.
Enquanto a música tocava aguou as plantas, fez brigadeiro, arrumou a mochila, calibrou os pneus. Enquanto a música tocasse seria feliz.
Pegou a estrada e saiu sem rumo, sem companhia, sem olhar para trás.
Não fazia sol, nem chovia. O céu estava nublado e isso a confortava como se atingisse um equilíbrio temporal. Algo tinha de ser controlado nesse acaso, pensou. Acelerou.
Chegou ao começo da noite a seu destino, mas não sabia que o sentido de destino seria prolongado, se daria conta no instante em que o sol queimasse seus cílios e o mulato lhe beijasse a boca.
Quinze anos passariam até que ela saísse outra vez, dessa vez um pouco cansada, um pouco feliz e muito confusa.
Voltou ao lugar de onde saiu e não reconheceu nada, nem a parede descascada, nem o cão que lhe afagou os pés, nem a música que ainda tocava no mesmo ‘headphone’. Só soube estar ali quando viu a fotografia na estante. Estava amarelada, mas os lábios do mulato ainda ardiam.
Desligou a música, chamou o cachorro para dentro, mas não conseguiu dormir.
Enquanto a música tocava aguou as plantas, fez brigadeiro, arrumou a mochila, calibrou os pneus. Enquanto a música tocasse seria feliz.
Pegou a estrada e saiu sem rumo, sem companhia, sem olhar para trás.
Não fazia sol, nem chovia. O céu estava nublado e isso a confortava como se atingisse um equilíbrio temporal. Algo tinha de ser controlado nesse acaso, pensou. Acelerou.
Chegou ao começo da noite a seu destino, mas não sabia que o sentido de destino seria prolongado, se daria conta no instante em que o sol queimasse seus cílios e o mulato lhe beijasse a boca.
Quinze anos passariam até que ela saísse outra vez, dessa vez um pouco cansada, um pouco feliz e muito confusa.
Voltou ao lugar de onde saiu e não reconheceu nada, nem a parede descascada, nem o cão que lhe afagou os pés, nem a música que ainda tocava no mesmo ‘headphone’. Só soube estar ali quando viu a fotografia na estante. Estava amarelada, mas os lábios do mulato ainda ardiam.
Desligou a música, chamou o cachorro para dentro, mas não conseguiu dormir.
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