Gostava de se vestir de preto e caminhar na chuva, era a melhor alternativa para encontrar sossego em seus pensamentos turvos. Acreditava que a água que vinha do céu limparia suas dúvidas e traria a primavera. Não tinha medo dos trovões. Sentava na calçada e esperava por eles, anunciados pelos raios, como quem espera o grande amor durante toda uma vida. Quando a chuva era rápida, logo aparecia o sol, e ele continuava sentado até se secar, gostava da sensação de quentura que proporcionava a pele, mas se acontecesse uma tempestade, esperava ela acabar e, em passos apressados, voltava para casa, sempre espirrava, sempre gripado. Se alguém falava para se cuidar, respondia que era “resfriado molhado” e ninguém contestava, justamente por não entender o que aquele termo significava. Se ele dizia, acreditavam, afinal era um senhor respeitadíssimo no bairro, conhecido por ter escrito durante 30 anos para a gazeta da cidade. Era o homem das informações, era o cidadão responsável por levar notícia aquele canto perdido. Era quem fazia sombra em dias quentes.
Nunca se casou, nunca foi visto com mulher apesar de toda semana encomendar arranjos à floricultura da senhora Araci. As beatas se benziam por pensar que ele era torto no sexo, e ele não se importava, não era de briga, e nem acreditava em sermões religiosos, preferia ser andarilho sem fé. E o padre fazia questão de o encontrar, fingindo que era por acaso, para discutir futebol. Torciam pelo mesmo time, mas na verdade o interesse do “homem de Deus” era manter a gorda doação que seu conterrâneo esportivo contribuía mensalmente. E numa mesmice insossa o relógio andava, era dia e noite a mesma coisa. A mesma ausência de coisas que para dar sentido ao nada. Tudo vazio. Tudo cinza. As pessoas se diluíam em conta-gotas de tédio. E ele, de binóculo, era um bom espectador do cotidiano.
Aos domingos, em fins de tarde, sentava no boteco da esquina para beber umas doses de cachaça, esse vício era teimoso, não o abandonava. Bebia até sentir que estava tonto, cambaleava para casa e caía na cama, só acordava na segunda, o álcool trazia uma vontade de tomar banho frio, e isso o motivava a viver a semana que sempre começava com gosto amargo. Acordava cedo e saía sem rumo, só voltava lá pelas 7 horas da noite, todo dia era assim, até que um dia ele não voltou. Deu 23h e nada dele surgir na esquina, passou uma semana e nada dele encomendar as flores, passou um mês e ninguém sabia das notícias, um ano depois não se comentavam mais nele.
Nunca se casou, nunca foi visto com mulher apesar de toda semana encomendar arranjos à floricultura da senhora Araci. As beatas se benziam por pensar que ele era torto no sexo, e ele não se importava, não era de briga, e nem acreditava em sermões religiosos, preferia ser andarilho sem fé. E o padre fazia questão de o encontrar, fingindo que era por acaso, para discutir futebol. Torciam pelo mesmo time, mas na verdade o interesse do “homem de Deus” era manter a gorda doação que seu conterrâneo esportivo contribuía mensalmente. E numa mesmice insossa o relógio andava, era dia e noite a mesma coisa. A mesma ausência de coisas que para dar sentido ao nada. Tudo vazio. Tudo cinza. As pessoas se diluíam em conta-gotas de tédio. E ele, de binóculo, era um bom espectador do cotidiano.
Aos domingos, em fins de tarde, sentava no boteco da esquina para beber umas doses de cachaça, esse vício era teimoso, não o abandonava. Bebia até sentir que estava tonto, cambaleava para casa e caía na cama, só acordava na segunda, o álcool trazia uma vontade de tomar banho frio, e isso o motivava a viver a semana que sempre começava com gosto amargo. Acordava cedo e saía sem rumo, só voltava lá pelas 7 horas da noite, todo dia era assim, até que um dia ele não voltou. Deu 23h e nada dele surgir na esquina, passou uma semana e nada dele encomendar as flores, passou um mês e ninguém sabia das notícias, um ano depois não se comentavam mais nele.
Um comentário:
um dia qualquer de um homem qualquer. tudo capturado não por um olhar qualquer.
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