29.5.07

CONFISSÕES DO DIABO E O SERTÃO OU DORAMOR



Eu distorcido no espelho de galhos retorcidos e chuva que não acaba mais. Cinco meses sem um descanso de Deus. Eu e Ele no oco do sertão. Ser tão vazio é meu coração. Machucamos os espinhos das flores que um dia encontrei nas grutas que dormi para aquietar os batedores do meu peito cabeludo. Luto de lua nos meus olhos fundos de choro de menino perdido. Com esforço de suar escuto longe a melodia que ouvi num sei quando. Escuto estrondos e corro com os sete bichos do mato. Um touro entra n'eu e mando e desmando no mundo. Fogo de labareda preta cuspindo das ventas. Urro e rodopio com a espora. Desconfio. Nunca aprendi a rezar umas rimas de fé amém. Sento no toco e fumo a fumaça devagarim e ela vai subindo subindo subindo, e com ela os pensamentos de morte. Tenho gosto da maldade humana e ela faz eu entender quando aparece o bem. Gosto as vezes e desgosto noutras. Sou um sino de agonia. Eu sinto um ardor me comendo as tripas quando num tô com ela. Espero a visita que darei um dia e o mesmo ardor doendo de um jeito que inda num conheço. Durmo e amanheço sem saber de verdade se ela tem cheiro e se posso pegar. O ar quente do meu nariz esquenta o frio que faz eu tremer de fogo bobo que eu acho morar no coração. Minha alegria explode de tontura igual quando o Diabo pede cana e danço na minha cabeça igual doutor que fez aula. Valso até o dia acabar. Raiar os ventos e a natureza toda, brincar com as formigas. E se vem um bicho grande saído de um buraco da terra e mete sem piedade a pata em cima do buraquinho que é a vida delas, uma parte do mundo deixa de ser e passa a não ser. Fica sendo um passado que segue com a gente até o futuro do encantamento.


* com a criatividade do meu querido mário jr. / http://www.fotolog.com/mario_quemario

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