27.4.07

UMA SECA


Via-se a seca
Através
Dos olhos do famigerado
Daquelas bandas


Memória retorcida
De galhos que trazia
(de outras paragens)
Na cacunda
Exposta aos carcarás


Via-se a seca
No lombo do bicho
Que lhe servira um dia
Agora
Cama solta sob o sol

Via-se a seca
Nas gotas de sangue
Da fome
Que lustrava a moringa

Via-se a seca
No chão
Que já não havia inteiro,
Nas rugas
Que já não cabiam no rosto,
No alaranjado céu
Que planava
Entre o tempo e o esquecimento
Que era a lei
Daquele lugar.

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